Legião de Maria: Cristo será juiz segundo a natureza humana

Cristo será juiz segundo a natureza humana


     1 — Do que foi dito, claramente se conclui que pela paixão e morte de Cristo, pela glória da Ressurreição e Ascensão, fomos libertados do pecado e da morte, e realmente recebemos a justiça e a esperança da glória da imortalidade. Tudo de que acima falamos — a Paixão, a Morte, a Ressurreição e a Ascensão — realizou-se em Cristo conforme a natureza humana. Por conseguinte, deve ser dito que, devido àquilo que Cristo sofreu e operou  conforme a natureza humana, libertando-nos dos males corporais e espirituais, nós fomos conduzidos para os bens eternos  e espirituais, pois é conseqüente que quem adquiriu os bens para os outros, deva também distribuí-los a estes.
   2 — A distribuição dos bens para muitos exige um juízo, para que cada um os receba  proporcionalmente. É, portanto, conveniente que Cristo, na Sua natureza humana, na mesma em que consumou os mistérios da Salvação dos homens, seja por Deus constituído juiz sobre os homens que salvou. Lê-se, por isso, no Evangelho de São João: "Deu-lhe o poder de fazer o julgamento (isto é, o Pai deu ao Filho), porque é o Filho do Homem (embora haja para isto outra razão)" (Jo 5,27).
     3 — É também conveniente que vejam ao Juiz os que devem ser julgados. Mas Deus, que definiu a autoridade judicial, ser visto em Sua natureza é um prêmio que é dado pelo Juiz. Convinha, portanto, que Deus, enquanto Juiz, fosse visto por aqueles que deveriam ser julgados: quer bons, quer maus; mas na natureza assumida, até porque, se os maus vissem a Deus em Sua natureza divina, estariam recebendo um prêmio, para o qual não fizeram jus.
      4 — Foi também conveniente que o prêmio da exaltação correspondesse à humilhação de Cristo, que tanto quis ser humilhado, a ponto de ser julgado injustamente por um juiz humano. Para expressar essa humilhação de modo significativo, confessamos no Símbolo que "padeceu sob Pôncio Pilatos".  Esse prêmio da exaltação, era-Lhe devido para que Ele fosse constituído, por Deus, segundo a Sua natureza humana, juiz de todos os homens,  os vivos e os mortos, conforme se vê: "A tua causa foi julgada como a de um ímpio: receberás a justiça que mereces" (Jó 36,17). E porque tal poder judicial pertence à exaltação de Cristo, como também a glória da Ressurreição, Cristo aparecerá, no juízo, não em forma humilde, pertencente ao estado de merecimento, mas em forma gloriosa, pertencente ao estado de recompensa. Lê-se, a respeito disso, no Evangelho: "Verão o Filho do Homem vir nas nuvens com grande poder e majestade". (Mt 24,30).
     5 — A visão da Sua claridade será, para os  eleitos que o amaram, motivo de alegria, aos quais foi prometido que "verão o Rei no Seu esplendor" (Is 37,17). Para os ímpios, será motivo de confusão e tristeza, porque a glória e o poder do juiz leva aos temerosos da condenação a tristeza e o medo, conforme se lê: "vejam e sejam confundidos os que desgostam o povo, e o fogo devore os teus inimigos" (Is 26,11).
     6 — Embora Cristo apresente-se em forma gloriosa, aparecerão contudo, n'Ele, os sinais da Paixão, não como defeitos, mas com beleza e glória, para que à vista deles, os eleitos encham-se de alegria, enquanto se reconhecem como libertados pela Paixão de Cristo; e os pecadores entristeçamse, eles que desprezaram um tão grande benefício. Lê-se, por isso, no Apocalipse: "Todos os olhos O verão, até mesmo os que O trespassaram; todas as tribos da terra lamentar-se-ão por causa d'Ele". (Apoc 1,7).

Extraído do livro "Compêndio de Teologia" (TOMÁS DE AQUINO, Santo. Compêndio de Teologia. Rio de Janeiro: 1977)
Fotografia do Yorck Project (2002) da obra 'Juízo final' de Beato Fra Angelico que encontra-se em domínio público

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